A marca sempre acompanhou a
humanidade, trazendo em sua essência aprovação ou rejeição. Os reis marcavam as
áreas conquistadas e o selo real era o sinal do poder que eles exerciam sobre
os povos conquistados. Os donos de gados, por exemplo, marcavam seus escravos,
e ainda hoje, marcam seu rebanho e outros bens.
E no contexto atual, qual a
importância da marca?
Já é sabido que o mundo se tornou
um grande quebra cabeça. Pais e mães trabalham fora e já não se reúnem com seus
filhos para as refeições ou para assistem juntos a tv. As compras no
supermercado, muitas vezes, são destinada à empregada. Homens e mulheres cada
vez mais moram sozinhos, surgindo a necessidade de novos produtos e serviços.
Uma única pessoa assume várias identidades na vida e nas redes sociais,
migrando entre o ambiente offline e online em questão de segundos. A
variedade de canais e de distribuição de conteúdo trouxe a tona um consumidor
exigente e bem informado e que espera conveniência, agilidade de atendimento e
entrega. Produtos são a todo instante “reinventados”, a fim de agregar valor e
obter diferenciais frente a concorrência. E como chamar a atenção do consumidor,
já que ele “zapeia” durante o
comercial, entre os mais de 100 canais que a TV hoje disponibiliza? São várias
as situações, e no meio desse cenário turbulento a marca passou a ser uma
grande alavanca de valor percebido e um importante diferencial na hora da
tomada de decisão. Se definirmos a palavra Marca temos como significado um nome,
sinal, desenho, que identifica bens ou serviços de uma empresa e os diferencia
dos concorrentes (conceito bem relacionado a introdução deste texto). Esta
idéia não está errada, porém, nos tempos de hoje é limitada, pois vai muito além
disso. Nos anos 90 surgiu a idéia de “brand
equity”, através de David Aaker, professor da Universidade de Berkeley. Se
adaptarmos essa expressão para o português, seria como dizer “o patrimônio da
marca” ou o “valor
da marca”. O real valor da marca, não estava só em
seus ativos tangíveis, como imóveis, equipamentos e estoques. O real valor da
marca estava em seus ativos intangíveis também, ou seja, todo o conjunto de
significados e de potencial que trazia sua essência e que dá a empresa uma
vantagem competitiva. Dentro dessa idéia, muitas empresas passaram a direcionar
esforços na administração das marcas, elencando, inclusive, indicadores para
monitorá-las e medir sua performance. Marcas bem administradas geram margens operacionais
e lucros maiores, proporcionando o crescimento e diminuição do risco do
negócio. Os bens intangíveis podem ser divididos em:
- Marca:
nome, símbolo, design, visual, cor, identidade com o público alvo,
posicionamento de mercado.
- Imagem:
clientela, fidelização, status, reputação comercial, fiscal, financeira,
jurídica, planos e estratégias de promoção/divulgação.
- Know how:
pessoal qualificado, capital intelectual, processos, pesquisas de
desenvolvimento de produtos, análises da utilidade e vida útil dos
produtos, testes etc.
- Informações:
pesquisas de mercado, banco de dados, estudos da concorrência, bom
relacionamento com as associações de classe, conhecimento da legislação
pertinente, entre outros.
Algumas empresas também são
especializadas em avaliar o valor da marca com metodologias próprias, como por
exemplo, a Interbrand, Millward Brown/Ibope, Landor, Reputation Institute e
Young & Rubicam.
Com a idéia de “brand equity”, a marca passou a ser
sinônimo de qualidade e confiança, a base onde as empresas se apóiam para promover
seus produtos e serviços.
Mas não confunda marca com imagem.
De maneira análoga, marca é como você se chama e imagem é o que as pessoas
pensam de você. Sem a presença da marca a comunicação é anônima (apesar de
haver um tipo de campanha publicitária que joga com o anonimato para gerar
certa curiosidade, conhecida como “teaser”,
mas logo entra com a revelação dela para marcar território).
O trabalho de branding deve estar em sinergia com todos os pontos que envolvem a
essência da marca, apresentar consistência e primar pela construção de vínculos
duradouros com clientes, acionistas, formadores de opinião, fornecedores, ou
seja, todos os stakeholders do
processo. Em alguns casos, podemos até falar em religião, ou seja, quando a
marca ganha seguidores e evangilizadores, e extrapolando para o ambiente online, quando a marca ganha “fãs” que
vão ser os parceiros na conversão de outras pessoas a se tornarem consumidores dela
também. Podemos citar como exemplo marcas como Apple, Harley Davidson, Nike e
Natura, que fazem isso com grande primazia, seduzindo e encantando as pessoas,
de modo que estas passem a incorporá-las como um estilo de vida (o ponto máximo
de identificação do público com a sua marca). E a comunicação traz grande
responsabilidade na difusão dos valores da marca. O conteúdo deve ser
verdadeiro, relevante e sem preconceitos, abordado de maneira simples, direta e
linguagem adequada. Não é necessário ser complexo e a estética deve estar
disposta de maneira que mesmo que a marca não esteja aplicada, que o consumidor
possa percebê-la. Um produto da Apple, por exemplo, mesmo sem o símbolo da maçã
aplicado, pode ser reconhecido, afinal tudo foi pensado de maneira cuidadosa e
que remetesse a “alma” da marca (embalagem, design do produto, cores, etc). O
trabalho de branding é se preocupar com tudo, pois no final das
contas, tudo que a empresa faz conta, por isso, é imprescindível a criação de
vínculos duradouros com os clientes, de maneira que a sua marca possa ocupar a
maior fatia da mente do consumir, também conhecido como “share of mind”.
Uma pausa para um case:
O Mc Donalds sempre cuidou de sua
imagem, mas em anos recentes, vítima de uma conexão de sua imagem a um ícone da
globalização e imperialismo norte americano, sofreu com denúncias de ofertas de
alimentos não saudáveis, má remuneração de funcionários, criação de animais em
cativeiros, entre outros. Diante desta situação a rede se reposicionou,
revitalizou suas lojas, acrescentou informações de alimentação saudável no
cardápio e adequou sua comunicação para uma visão mais local do que global,
tudo isso através do slogan “amo muito tudo isso”.
4 Estágios do desenvolvimento da marca:
- Identificação da marca - O consumidor associa a um tipo de produto específico à marca
- Aceitação da marca - O consumidor considera essa marca específica como uma dentre as alternativas a serem consideradas
- Preferência pela marca - O consumidor considera a marca como a melhor e vai comprá-la, a menos que não a encontre.
- Lealdade a marca - O consumidor considera a marca como a melhor e comprará aquela ou nenhuma outra.
4 estágios importantes na percepção do consumidor:
1) Diferenciação: é o primeiro passo na construção de uma nova marca.
A empresa busca criar, na mente do consumidor, a percepção de que a marca tem
algo único a oferecer, destacando-se de seus concorrentes, dando-lhes
personalidade própria, a fim de atrair novos usuários.
2) Relevância: o consumidor passa a perceber que tem boas razões para
adotar a marca.
3) Estima: consiste em desenvolver o apreço que os consumidores têm
pelas características da marca, por aquilo que ela oferece e sua disposição de
defendê-la contra os concorrentes. Essa relação emocional é uma etapa
fundamental no estabelecimento no mercado e na obtenção do “share of heart” do consumidor.
4) Familiaridade ou conhecimento: é a etapa final na construção da
marca e não se refere apenas a que o consumidor esteja ao par da existência da
marca, mas a que tenha um conhecimento profundo daquilo que ela representa de
sua essência e seus atributos.
Definições gerais:
a) Tipos de marca:
As marcas podem ser caracterizadas
pela finalidade ou proteção legal:
·
Marca comercial: nome legal que a empresa usa
para operar suas atividades. Ex: Ambev, que possui outras marcas nominais, como
Guaraná Antártica, Brahma etc.
·
Marca registrada: é a marca que foi legalmente
depositada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a fim de
garantir exclusividade de uso ao seu proprietário. O termo marca registrada
cobre todas as formas de marca (nomes de marcas, marcas comerciais, logomarcas).
A marca registrada é o indicador básico de proteção de origem e propriedade.
Quanto a função, as marcas podem
ser divididas entre:
- Marcas do fabricante: são controladas pela
organização cuja principal atividade é a produção de bens ou serviços. Exemplo:
Bacardi.
- Marcas próprias: referem-se às marcas que pertencem
e são utilizadas, por exemplo, por atacadistas e varejistas. Ex: Viver,
Carrefour – marca da rede de varejo Carrefour.
- Marcas genéricas: são produtos comercializados sem
marca específica, exemplo: lixas de unha, verduras, miudezas em geral. Sem
marca, o produto pode chegar ao consumidor por um menor preço, pois não
estão envolvidos custos de construção de marca e divulgação.
- Marcas de grife: marcas de luxo. O apelo da grife
está relacionado ao estilo de vida, ao sentimento e a experiência.
Exemplo: Calvin Klein, Giorgio Armani.
Há um forte movimento na sociedade
em identificação dos produtos. Até os frangos e as frutas, hoje em dia, são
carimbados com a marca do produtor ou do distribuidor, a fim de identificá-las
e diferenciá-las em relação a qualidade.
b) Elementos que compõe a marca e
que ajudam a compor o brand equity:
- Logotipo: parte da marca que pode ser expressa em
palavras. Ex: Guaraná Antártica, Bauducco.
- Símbolo da marca: também chamado de logomarca. É a
parte que não é expressa por letras e números, e sim, por desenhos e
grafismos. Exemplo: a árvore da Editora Abril.
- Slogan: é o lema que deve propiciar uma associação
adicional a marca. Constitui um dos fortes elementos que contribui para a
formação da marca com seu target.
Ex: Havaianas. As legitimas.
- Jingle: peças musicais cantadas com melodia simples
e cativante, fácil de ser repetida.
- Embalagem e rotulagem: A embalagem possui duas
funções principais: proteção do produto e comunicação do mesmo. Tradicionalmente
existem dois tipos de embalagem: a de transporte (caixas de papelão, por
exemplo) e a de consumo (a que você vê nas lojas). Características como
funcionalidade (de modo que promova a venda e facilite o uso), composição (materiais
que serão utilizados na embalagem, como plásticos, papéis, vidros,
madeiras etc), elementos visuais (são aqueles que criam o estilo na
embalagem, através da combinação dos elementos gráficos como tipografia,
tamanho, desenhos, etc) e por fim, formato e tamanho (característica ligada
a dimensão da embalagem), são importantíssimas. Um dos grandes desafios
atuais é de como agregar valor através da embalagem sem onerar os custos e
não produzir uma grande quantidade de embalagem e conseqüente descarte
prejudicando o meio ambiente. Pensar em todo esse contexto é
importantíssimo na hora de desenvolver uma embalagem, que com certeza pode
ser a tangibilização da identidade da marca (aquilo que a empresa deseja
que a marca transmita ao consumidor).
Patrocínio de marca:
Patrocínio é uma forma de
investimento empresarial que exige um processo racional de decisão que objetiva
um retorno o qual pode ser financeiro, de reconhecimento ou lembrança de marca
e institucional, maior visibilidade e legitimidade perante os públicos da
empresa patrocinadora. Resumindo, o patrocínio é a publicidade voltada à
obtenção de credibilidade e melhoria ou manutenção da reputação empresarial. Quando
uma marca deixa de ser uma imagem corporativa e passa a oferecer experiência e
emoção, ela automaticamente começa a ser vista pelo consumidor de forma
diferente, por isso os patrocínios de marca aparecem como uma boa opção de
estratégia de branding. Porém, para
que a marca não seja mais uma no meio de muitas outras em um evento, por exemplo,
um dos conselhos é o de buscar patrocínios proprietários, exclusivos e
contínuos (de longo prazo), para que, desta forma, a estratégia de patrocínio
ajude na construção ou reforço da identidade da marca. Porém, se a marca não
consegue construir um evento proprietário, é comum ver empresas se associando a
eventos culturais, esportivos, artísticos, congressos de terceiros. Dessa
maneira, a marca pode ser Sponsor exclusiva
de um evento já existente (Bradesco quando patrocinador exclusivo do Cirque du
Soleil no Brasil), ou mesmo, Co-Sponsor,
ou seja, divide a cota de patrocínio com outras marcas. Independente da
escolha, pensar em ações de ativação (distribuição de brindes, oficinas, stands
de interação, etc) no evento é indispensável, a fim de reforço da presença da
marca.
Pensando sobre o retorno do
investimento, há várias maneiras de medi-lo. Alguns exemplos são, alcance de
público, relacionamento, reforço de imagem, visibilidade na mídia, abertura de
oportunidades comerciais etc.
Mesmo com pouca verba disponível
para investir, existem outras formas de se fazer patrocínio e obter um retorno satisfatório,
não só utilizando verba direta do budget de marketing, mas também, através de
leis de incentivo federal, estadual e municipal, de acordo com as quais o
governo abre mão de receber impostos devidos pelas empresas em prol do fomento
da cultura, do esporte, etc. As leis mais usadas são Lei Rouanet, Lei do Audiovisual,
renúncia de ICMS e Lei de Incentivo ao Esporte.
Finalizando:
Vimos aqui alguns dos principais
conceitos de marca e patrocínio, porém, vale ressaltar que no mundo de hoje não
existe espaço para mensagens massivas, conteúdos rasos e produtos e serviços
irresponsáveis. As marcas contemporâneas estão em intensa vigilância quanto a
sua responsabilidade ética, socioambiental, reputação etc. A gestão de branding corresponde ao grande desafio
de escolher entre uma grande diversidade de ferramentas, que serão responsáveis
pela construção de relacionamentos com todos os stakeholders da empresa e aplicá-las de maneira responsável com um
olhar 360º, ou seja, voltado para todas as frentes. Marca é um grande jogo de
sedução que envolve e fascina e chega a tornar irrelevante o fator preço, por
isso, precisa ser pensada e cuidada com grande responsabilidade.
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